O 12 de novembro minha irmã chegava a Paris desde Rabat (onde mora). Enviava-me um whatsapp em que me dizia que acabava de recolher na caixa de correio o livro cuja foto ponho aqui. É um livro cuja edição espanhola tenho desde os anos 90, quando ainda era estudante de filosofia na Faculdade. Um leitor de Nietzsche que lia Al Sulami não encaixava no modelo mas tem a sua lógica, podem estar certos. Desde então não tenho um especial interesse na filosofia ocidental. Para exprimi-lo de um jeito simples, acho que está poluída por um excesso de "ego". Isto podería estender-se aos produtos culturais. Não se trata só dos conteúdos mais ou menos racionais quanto uma certa "emanação" pesada, obscura, um virus que provoca uma terrível doença ego-maníaca, pode ser sutil, pode ser patente mas está aí. Terrível. Quando notamos isso em nós, quando notamos o perigo em que estamos é preciso tomar medidas. Existe uma "transferência sutil" que vai além do aparente conteúdo, é como um alimento ou um ar. Precisamos respirar outra cousa. Quando tomamos um jornal nas mãos ás vezes podemos sentir um cansaço ou simplesmente como uma certa náusea. Não é momento de ler. Deixamos a um lado.
Como escreve Sayd Bahodine Majrouh no seu livro " O riso dos amantes":
Amigos, porquê seres inteligentes caim tão facilmente na trampa do Dragão?
...
Não tenháis medo mais que de vós mesmos
enfeitiçados amigos
Bem sabéis que o Dragão do horror
habita no vosso coração
é de ali de onde vem a tormenta
é ali onde nascem os dragões
Não tenháis medo mais que de vós mesmos
se vos seduz o horror!
Os loucos que vos assustam estão menos tolos que os reis!
Certo que isto vem a propósito do que aconteceu em Paris. Não há muito que dizer, realmente. Mas leva-me a pensar que se um virus fosse introduzido na população dificilmente o poderiamos combater com ideologias, com consignas, com dialéticas ou com armas. Procurariamos a ciência médica, procurariamos um bom médico.
É uma doença que ataca o coração. Precisamos de um cardiólogo, de um bom cardiólogo.